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domingo, 15 de agosto de 2010


Educação e conservadorismo

O falso debate em torno de literatura erótica e livros didáticos no ensino escolar, promovidos por pseudo- jornalistas e críticos literários, escondem nuances de um conservadorismo barato e ultrapassado, retrato de uma hipocrisia farisaica e medieval, além de um viés eleitoral.

Na era da informação, de novas tecnologias e da democratização do conhecimento é um absurdo alguns setores da sociedade retrógrada, querer usar de instrumentos de pouca crítica e da lei da mordaça para manter o ensino e a pesquisa no atraso. Nas linguagens modernas e no mundo da comunicação toda a manifestação cultural deve ser aprendida, abordada, conhecida e dominada. Isso é formar o criticamente o estudante dentro de um mundo moderno e multifacetado.

Querer esconder ou manter o erotismo e a sexualidade na esfera marginal e obscurantista é uma demonstração latente de hipocrisia e falso moralismo típico da ignorância de uma classe média decadente. A linguagem popular, o erotismo e a sexualidade fazem parte de toda a manifestação social.

Em seu artigo publicado no jornal o Vale, do dia 15/08, o senhor João Júlio da Silva, que não sei se é jornalista, escritor ou professor, critica os livros e os contos eróticos distribuídos pela Secretaria Estadual de Educação. Atribuindo a eles, um julgamento nada criterioso, acadêmico ou intelectual, mas sim, destila um julgamento superficial e permeado de preconceitos e visão educacional obtusa, limitada e reducionista. Se, dependesse desse cidadão, os alunos deveriam ler e falar em latim e só aprender a moral e os bons costumes de uma sociedade fundamentalista e hipócrita. A Idade média já se foi, graças a Deus.

Como educador, acredito que nossos jovens devem conhecer e dominar todas as formas e manifestações artísticas e culturais que fazem parte de um mundo globalizado e tecnológico. As linguagens e os comportamentos modernos devem ser estudados e trabalhados amplamente dentro da sala de aula, sem o controle de um moralismo ultrapassado. O Brasil não é o Irâ.

O problema de fundo da Educação é bem mais embaixo. Falta sim, na escola pública, mais investimentos na Educação, valorização dos professores, salas com menos alunos, cursos de extensão e capacitação para professores, melhores salários e mais bibliotecas e centros de informática. Isso sim é um descaso com o Ensino.

Quanto aos livros e contos eróticos dentro da sala de aula, gostaria de lembrar que todos os escritores citados nesses livros e contos, são homens e mulheres que produziram arte em seus contextos históricos reais e não fictícios. Na universidade, aprendemos que toda manifestação e produção humana é uma manifestação cultural.

Jefferson Damasceno de Souza: professor, historiador e servidor público municipal e estadual.

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